domingo, 30 de novembro de 2008

TROFÉU RAÇA NEGRA

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Uma interpretação emocionante do Hino Nacional abriu a celebração do Troféu Raça Negra 2008, mais importante cerimônia de premiação das iniciativas de inclusão e promoção do negro, com representatividade mundial. Foram laureados artistas como o ator brasileiro Fabrício Boliveira (26), o cantor americano Billy Paul (74) e Jamelão Neto (28), que recebeu a homenagem em nome do avô, o sambista Jamelão (1913-2008). A premiação, que chega à sexta edição, é realizada pela Sociedade Afro- Brasileira de Desenvolvimento Sócio Cultura (Afrobras) e pela Universidade Zumbi dos Palmares (Unipalmares), com o apoio de empresas do setor privado.

"Agradeço aos artistas negros brasileiros, que pelo segundo ano consecutivo comparecem em peso. Esta noite é um passo importante para que no futuro não tenhamos mais que realizar ações para superar as desigualdades", anunciou José Vicente (49), presidente do conselho da Afrobras e reitor da Unipalmares.

Figura emblemática do soul, o cantor americano Billy Paul foi laureado na categoria Internacional, junto com Larry Palmer (60), CEO da Inter-American Foundation e embaixador dos EUA em Honduras. "Estou muito feliz e honrado por estar aqui. Obrigado por este prêmio e pelo carinho comigo", disse o músico, sorridente. Sheron Menezes (25) foi uma das que fizeram questão de tirar fotos ao lado do ídolo, Billy Paul. A atriz foi mestre-de-cerimônias junto com Paulo Betti (56).

O ponto alto da noite foi o troféu Revelação do Ano, entregue ao ator Fabrício Boliveira, que representa o personagem Didu em A Favorita, da Globo. "Meu personagem foi crescendo ao longo da trama, estou adorando interpretá-lo, principalmente pela discussão em torno de causas sociais que ele provoca. É um momento especial para mim, para minha raça: é hora de mudança. A eleição nos Estados Unidos é prova disso", disse o ator, referindo-se à eleição de Barack Obama (47). "Não nos cabe mais esperar por heróis, temos todos que ser Obamas de nossas vidas", completou o ator, antecipando o tom político que regeu os discursos.

A premiação fez um tributo ao cantor Wilson Simonal (1939- 2000), grande destaque na década de 1960. Nos intervalos de Outros shows que agitaram a noite: as damas Paula Lima, Alcione e Leci Brandão, de verde-e-rosa para cantar o Hino à Mangueira, Pedro Mariano e Rappin Hood. Abaixo, os atores Tony Tornado e Neusa Borges e Joran Biswaro, embaixador da Tanzânia. entregas de troféu foram exibidos trechos do documentário Ninguém Sabe o Duro que Dei, sobre a vida do homenageado, com direção de Micael Langer (33), Calvito Leal (30) e do humorista Claudio Manoel (49), do Casseta & Planeta. Em seguida, grandes nomes interpretaram sucessos de Simonal.

Paula Lima (35) cantou Não Vem Que Não Tem e aproveitou para comentar o momento que o país vive: "Este é um ano inesquecível, um ano de mudança, intensidade e verdade. As pessoas estão começando a se verem como iguais. É um momento especial para todos, negros, brancos ou orientais". Alcione (60) foi ovacionada com Ninguém Sabe o Duro Que Dei; Rappin Hood (36) cantou Tributo a Martin Luther King; Pedro Mariano (33) relembrou o clássico Samarina e Leci Brandão (64) agitou os presentes com o Hino da Mangueira. Em seguida, ela entregou a Jamelão Neto o troféu que homenageia postumamente seu avô, Jamelão.

No ano em que se comemoram os 120 anos da Abolição da Escravatura, o evento foi realizado em um cenário histórico, a belíssima Sala São Paulo, localizada na Estação Ferroviária Júlio Prestes, no centro, construída no século passado para transportar o café paulista, cuja trajetória está intimamente ligada à do negro. A acústica perfeita recebeu as vozes poderosas e afinadíssimas do coral da Unipalmares, totalmente em harmonia com os instrumentos da Orquestra Filarmônica Afro- Brasileira (Filafro), que deram No topo da página os laureados na categoria Institucional: Joaquim Barbosa, Orlando Silva, Gilberto Kassab e Fábio Barbosa. Daiane dos Santos acompanhada dos pais. A atleta foi de muletas por causa de uma operação no joelho, há três semanas. Ao lado, Sandra de Sá. Entre os homenageados da noite, Edson Santos, Carlos Ayres Britto, Edgardo Martolio e Larry Palmer. Maurren Maggi é a Atlela do Ano. O ator Milton Gonçalves, que vibra ao lado de assistente de palco, e Netinho de Paula comovem com suas histórias de luta contra o preconceito. início a esse grande evento em favor da igualdade de direitos.

Neste ano, a escolha dos premiados seguiu outros critérios: não houve votação pelo site, as autoridades e personalidades foram eleitas diretamente por uma comissão da Afrobras e da Academia Afro-Brasileira de Artes.

Na categoria Conjunto da Obra foram premiados: os ministros do Supremo Tribunal Fe deral Carlos Ayres Britto (66) e Joaquim Barbosa (54); Maria Helena Guimarães Castro (62), secretária de Educação do Estado de São Paulo; Milton Gonçalves, ator; Daiane dos Santos (25), ginasta; Netinho de Paula (38), músico e vereador eleito; Orlando Silva (37), ministro dos Esportes; Erickson Gavazza (46), desembargador; Marcelo Paixão (42), diretor de graduação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e Sandra de Sá (53), cantora. Daiane dos Santos subiu ao palco usando muletas, após uma nova operação no joelho realizada há três semanas. O choro de emoção. quase não deixou a ginasta discursar: "O esporte é uma poderosa ferramenta de inclusão social. Entre tantos troféus que ganhei, este é especial, estou na festa da minha raça, encontrando pessoas que admiro".

O discurso do ator Milton Gonçalves (74), que interpreta um político corrupto na novela A Favorita, levou a platéia a aplaudilo de pé. Muitos se comoveram com a história de luta contra o preconceito. "Levanto a bandeira da inserção sem humilhação. Quando criança e jovem escutei diversas vezes a expressão 'aqui não é lugar de negro'. Criei mágoas profundas, mas neste ano vi milagres acontecerem, como a eleição de um negro para a presidência dos Estados Unidos. Estamos vivendo um momento ímpar de transição social e política e o nosso país pode melhorar a ascensão de um segmento que representa 50% da população", declarou o ator.

Milton é reconhecido pelos jovens como um dos precursores na luta contra estereótipos. O ator Rocco Pitanga (28), que vem de uma família de artistas negros - é filho de Antônio Pitanga (69) e irmão de Camila Pitanga (31) -, elogiou o trabalho da geração de seu pai. "Já fui apresentador da premiação duas vezes, aqui estão reunidos artistas negros de peso, pessoas que como meu pai e Milton Gonçalves lutaram para que hoje eu possa interpretar personagens não ligados a estereótipos", afirmou. "Conquistamos muitas coisas ao longo da história. Isso é possível notar nos projetos que defendem os negros diante do preconceito racial. Vai chegar o momento em que não dependeremos da cor da pele para nada, e sim de nossas competências e habilidades", completou Antônio Pitanga.

A próxima premiação foi para a categoria Institucional, grupo de personalidades cujas empresas que representam tiveram destaque na contribuição para a valorização do negro. Nesse segmento, a revista CARAS foi homenageada por oferecer o mesmo espaço a artistas e personalidades de todas as etnias. "Os negros se vêem cada vez mais na revista CARAS", afirmou Paulo Betti antes de chamar ao palco Edgardo Martolio, superintendente editorial da publicação. "Este troféu fica um pouco grande para minha contribuição, mas com certeza não é grande para o meu coração", agradeceu Edgardo.

Também saíram com a estatueta nessa categoria: José Luis Bueno, diretor de recursos humanos do Bradesco; Gabriel Jorge Ferreira (72), representando Pedro Salles (49), presidente do Unibanco; Adriano Lima, representando Roberto Setúbal (54), presidente do Itaú; Fabio Barbosa (53), presidente do Santander e da Febraban; Edson Santos ( 54), ministro da Igualdade Racial; Mario Héliode Souza, diretor da fundaçãoBradesco; Gilberto Kassab (48), prefeito reeleito da cidade de São Paulo, e Nélio Alfano Moura (45), preparador físico da atleta Maurren Maggi (32), cujo trabalho motivou outro prêmio. Maurren, ganhadora da medalha de ouro na prova de salto a distância nas Olimpíadas de Pequim, foi eleita a Atleta do Ano.

Gilberto Kassab elogiou a iniciativa da Afrobras. "Mais que um troféu, este é um evento que se consolida como um dos mais importantes do Brasil; é uma merecida homenagem às pessoas que contribuem para o desenvolvimento econômico, social e cultural do país e que ajudaram a construir a nação brasileira, que cada vez mais se consolida como uma nação igualitária e sem preconceitos", reconheceu o prefeito. "Embora muitos não saibam, minha avó era negra. Hoje é um prazer muito grande participar desta merecida homenagem. É uma festa maravilhosa, com amigos e personalidades incríveis", revelou.

Um clipe com imagens do líder negro americano Martin Luther King (1929-1968) e de Barack Obama foi exibido no telão. Comparações entre os dois foram feitas durante toda a noite. Uma placa em homenagem ao povo americano pela eleição de Obama foi entregue a Laura Gould (53), adida cultural do Consulado dos EUA. "Estou orgulhosa de meu país e meu povo, com a chance que temos de promover mudanças no mundo", agradeceu.

Para encerrar, Max de Castro (36) e Simoninha (38), filhos do grande homenageado do evento - que herdaram o talento musical de Wilson Simonal -, eletrizaram a platéia ao som de País Tropical e A Vida é só Pra Cantar. Os músicos agradeceram o tributo. "Esta homenagem veio por tudo que meu pai representou para a MPB. A questão racial teve grande peso na história dele e nos problemas que enfrentou. A mensagem que fica é que precisamos aprender a recontar a história do país, valorizando quem participou da sua construção", disse Simoninha. "Esta noite contou como que há de melhor da MPB", encerrou Max de Castro.

CARAS
RAFAELA SANTOS

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