terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Duelo de JOVENS Titãs:


Para a TV, 2008 foi um ano de grandes cenas, tanto na tela quanto nos bastidores. Entra para a história o embate direto entre Record e Globo, que brigaram frente a frente pela audiência no horário nobre - a primeira com Os Mutantes, continuação de Caminhos do Coração de Tiago Santiago, e a segunda com o thriller A Favorita, de João Emanuel Carneiro.

Há alguns anos obtendo boa repercussão de suas tramas e com uma produção de elevado nível técnico, a Record conseguiu, pela primeira vez, minar a estréia de uma novela da concorrente, em junho. Levou o primeiro capítulo de Os Mutantes - que, como Caminhos do Coração, já obtinha média de 16 pontos no Ibope às 22h30 - ao ar no mesmo dia e horário (21h) da estréia de A Favorita. Deixou a Globo com 34 pontos, a pior média de uma estréia de novela das 8 já registrada.

Mas fora a dança dos medidores de audiência, a quebra da hegemonia da Globo no seu mais valioso produto expõe algumas conclusões.

A primeira se tira com grande satisfação: o maior duelo pela preferência do público é protagonizado por dois jovens autores (João Emanuel tem 39 anos, Tiago, 45). A segunda vem da observação de que Os Mutantes - quer você goste de verdade, se divirta ou nada disso - apresentou uma alternativa real ao que a Globo costuma produzir, além da imitação.

Em clima de seriado americano, com muitos efeitos especiais e cenas de ação, a novela de Tiago Santiago representa o modelo de produção que a emissora do bispo Edir Macedo vem desenhando - ágil, recheado de cenas de ação e acontecimentos mil. Chamas da Vida, de Cristianne Fridman, no ar desde julho, também é assim.

Além de chamar a atenção pelo nível de suas produções, a emissora quer também produzir em quantidade, como faz a concorrente.

Por isso, está diversificando a produção - hoje apresenta o especial Os Óculos de Pedro Antão, baseado no conto de Machado de Assis, e, no dia 5, leva ao ar a série policial A Lei e o Crime.

No mar de produção original que é a grade da Globo, não se pode deixar de citar a minissérie Queridos Amigos, de Maria Adelaide Amaral, excelente para o espectador que ousa pensar diante da TV. No mesmo embalo, foi o ano também de Capitu, de Luiz Fernando Carvalho.

Mas, no fim das contas, quem conseguiu aliar a sofisticação com o gosto popular foi mesmo A Favorita. A novela virou assunto nacional justamente - e não por acaso - quando se tornou mais acelerada e abandonou a ambigüidade das protagonistas Donatela (Cláudia Raia) e Flora (Patrícia Pillar). Com uma vilã terrível para odiar, numa grande interpretação de Patrícia, lá foi a novela para os 48 pontos.

Mas a novela não viveu só de Flora, teve grandes momentos. Silveirinha (Ary Fontoura, maravilhoso) jogando todo o seu rancor sobre Donatela. Dodi (Murilo Benício) e seu ar de Scarface da Vila Brasilândia. Milton Gonçalves como um político corrupto (Romildo), papel onde a raça não tem qualquer relevância. O beijo entre Irene (Glória Menezes) e Copola (Tarcísio Meira) - um dos casais mais conhecidos da TV, os atores teriam ensaiado para a cena, que graça. A morte de Gonçalo (Mauro Mendonça), em clima de Carrie, A Estranha.



O Estadão

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