domingo, 26 de outubro de 2008

As Alices modernas da telinha: Novas Cristicas aos Os Mutantes



''Comece pelo começo, siga até chegar ao fim e então, pare'' (Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas)

É difícil uma criança que nunca tenha se deparado com Alice. Seja no "país das maravilhas" ou "através do espelho", que lemos nos livros e assistimos nos desenhos e filmes. Eu já embarquei diversas vezes nas aventuras de Alice e em sua delirante viagem de autoconhecimento. E está acontecendo de novo agora. Alice no País das Maravilhas vem sendo muito bem representado na telinha atualmente. No canal a cabo HBO, a série Alice uma modernização da história de Lewis Carroll. Mas encontro Alices também em A Favorita e até em Os Mutantes. Mas vamos por partes...

Para quem no conhece a história, Alice é uma menina, que segue o Coelho Branco e cai em sua toca, indo parar num lugar fantástico povoado por criaturas muito peculiares, como o Chapeleiro Maluco, o Gato Risonho, Lebre de Março, a Duquesa e a Rainha de Copas, entre outros. Criado pelos cineastas Karim Anouz e Sérgio Machado, o seriado Alice já está no quinto dos 13 episódios que serão exibidos. Mas se você não viu nada ainda vale à pena pegar o bonde pela metade. Ou então esperar as reprises do HBO. Alice passa todo domingo, às 22h e 1h (na HBO2). Confira os outros horários no site http://www.hbo-br.tv/.

Interpretada por Andréia Horta, que também vive a Beatriz de Chamas da Vida, Alice é mais velha e menos inocente do que a personagem de Lewis Carrell. Mas mantém certa ingenuidade. Às vésperas de seu casamento, Alice é surpreendida com o suicídio de seu pai. Ela deixa Palmas, no Tocantins, e vai para o funeral dele em São Paulo. E é na metrópole que começa sua louca jornada. Logo no primeiro capítulo, Alice perde o avião de volta, vai parar numa rave e acaba transando com um americano bonito. A partir daí a moça se joga numa onda de sexo, drogas e eletronic music. Com tantos atrativos aos seus pés, ela desiste de retornar para Palmas, justificando que deseja descobrir quem realmente é, além de conhecer um pouco mais sobre o falecido pai (com quem não conviveu) e se aproximar da meio-irmã adolescente, Célia (um anagrama de Alice, como elas descobrem), vivida por Daniela Piepzyk (de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias). A menina Daniela mais uma vez tem uma atuação excelente e Regina Braga brilha intensamente como a Tia Luli. Andréia tem nas mãos uma personagem complexa, mas se sai com desenvoltura. E conquista o público com toda sua graça e carisma.

Quero reverenciar também a extraordinária atuação de Tereza Rachel no terceiro episódio, que lembrava muito a passagem escandalosa da vida de Susana Vieira. No programa, Tereza viveu uma estrela cujo marido garoto era detido por quebrar o quarto de hotel e espancar uma prostituta. Só que, na ficção, a personagem de Tereza botou o safado para correr... Bem, mas o que importa é que a veterana deu um show de interpretação, aproveitando cada nuance e tensão dramática que seu papel oferecia. E deixo no ar a pergunta: por que Tereza Rachel no está fazendo novelas, minha gente? Caros produtores de elenco, respondam, por favor!

Bem produzida, dirigida e interpretada, Alice só tem um problema. E sério: sua protagonista até agora só caiu na gandaia. Aprendizado? Autoconhecimento? Alguma lição? Por enquanto não. Até agora ela não evoluiu nada. Mas vou aguardar até o 10º capítulo para conferir onde Alice vai parar. E comento aqui depois...

Uma Alice bem caipira

Em A Favorita, Maria do Céu (Deborah Secco) é uma espécie de Alice da roça. Ou era, já que ao chegar no "país das maravilhas" (leia São Paulo, também), ela simplesmente perdeu seu sotaque caipira. Uma licença poética da qual o autor, João Emanuel Carneiro, se permitiu e que não afetou seu trabalho. E Alice/Céu realmente mergulhou fundo no mundo novo que descobriu. Cruzou com terríveis Rainhas de Copa, encontrou um chapeleiro muito louco (Orlandinho, vivido por Iran Malfitano), mas nenhum dos gatos que arrumou, Cassiano (Thiago Rodrigues) e Halley (Cauã Reymond), sorriram de verdade para ela.

Boa atriz, Deborah dá credibilidade para as situações insanas que sua personagem se mete e faz o público perdoar seus desatinos. Lançada num universo totalmente diferente do que foi criada, ela luta com as armas que tem para conquistar o que julga ser sua felicidade. E está num processo de descobrimento sutil, mas forte; tal e qual Alice, Céu é uma sobrevivente! E vai chegar aonde quer.

Alice mutante

Decidi incluir Maria (Bianca Rinaldi), de Os Mutantes, nessa lista por uma simples razão: a ex-artista de circo foi tragada para um mundo tão fantasioso e cheio de armadilhas e descobertas quanto à pequena Alice. E, como a menina que conseguiu ficar gigante e minúscula, Maria também ganhou poderes especiais que a ajudam a superar as adversidades. O rito de passagem que todo adolescente enfrenta trabalhado em velocidade máxima pelo autor Tiago Santiago. Maria está tendo que amadurecer a duras penas. O novelista faz de Maria a melhor personagem da sua novela. A que mais se transformou, cresceu e evoluiu. E a Alice/Maria, tirando seus poderes mutantes, poderia estar sentada ao seu lado na sala de aula, trabalhando com você ou sendo sua amiga. Ela é gente como a gente e só quer descobrir sua verdadeira identidade emocional.

Mas e você? Também tem um "Q" de Alice?



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RAFAELA SANTOS

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